De hora a outra,

escrever passa cautelosa e, ao mesmo tempo, sucintamente, de um simples hobbie, uma diversão, a um instinto de sobrevivência. Obrigada aos visitantes. Deixo-lhes aqui minhas singelas horas vagas levadas por uma brisa de inspiração.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Devaneios expressos em tinta

Um plástico transparente forrava sua mesa, e sobre ele encontravam-se todas as outras ferramentas que ela julgava necessárias para que pudesse se refugiar de sua própria vida, do mundo em geral. Um lápis já meio gasto, com a ponta arredondada e pronto para ser trocado, pois seu tamanho refletia seu uso constante e desleixado, designado apenas para traçar o que mais tarde refletir-se-ia apenas através das cores esparramadas por um pincel. Uma lata de tinta branca semi-aberta pelo descuidado do dia anterior, com um espeto de madeira, mal desenhado e cheio de farpas cujo uso se dava para mexer o liquido espesso que se cobria de água por decantação que sofria durante seu repouso. Ao lado, diversos pincéis jogados, deixando transparecer seus tamanhos variados, mais freqüentes no tamanho 8 e 10, que fazem traços nem tão grande, nem tão pequenos, mas que ela julgava serem os melhores para exprimirem rapida e detalhadamente cada cor do desenho que lhe houvesse vindo à mente. Um pigmento de cada cor, repetindo-se nas cores quentes em quantidades, já que o vermelho, o laranja, o rosa choque, o amarelo mostarda, faziam-na sentir como se o sangue corresse-lhe quente pelas veias, e a cada pincelada era como se a vida brotasse-lhe das entranhas e fosse direto para a tela, transformando-se não apenas nas formas que as pessoas veriam após o término da pintura, mas em um pedaço de sua felicidade e de sua vida que estava escrito sem letras, e para ninguém mais perceber da mesma forma com que percebia. Ao olhar cada pincelada que havia dado revivia a memória que a havia visitado no exato momento, ativando diferentes emoções e angústias.

Às vezes lhe vinha à mente um episódio recente. Era o momento que tinha para refletir qualquer mínimo detalhe diário que lhe houvesse causado desconforto, dúvida; que lhe houvesse despertado uma suspeita de algo bom, ou a incerteza da chegada de algo ruim. Era sempre assim enquanto coloria pequenos pedaços de telas feitas de lona pregadas em estrutura de madeira, ou quando desenhava caixinhas de madeira crua que decidia comprar para variar seus trabalhos.

Quando se cansava do fluxo de pensamentos, a enxurrada de memórias recentes ou antigas, a avalanche de planos que pretendia para o futuro ou que simplesmente gostava de mentalizar embora julgasse totalmente inválidos para o que viveria de fato, ligava uma música que a fizesse flutuar, como se ela mesma fosse o pincel e dançasse por sobre o desenho, colorindo-o onde desejava que fosse de determinada cor. Era o momento em que mais fugia da realidade. Sentia-se dançando uma valsa, como uma bailarina solitária, de olhos cerrados levemente, cabeça erguida, e respiração suave. Mesmo o ar lhe parecia mais fresco, como uma brisa matinal carregada de orvalho. Podia sentir essa brisa acariciando seu rosto enquanto flutuava por sobre as pontas de seus dedos dos pés. Era tão leve quanto uma pena, mas livre das mãos de qualquer escritor que pudesse guiá-la. Movia-se como bem queria, levando cores certas e erradas aos lugares que melhor julgava se encaixarem; e se não gostasse do resultado, levava mais cores até que estivesse não perfeito, mas exato. E ao deparar-se com o quadro feito, pronto para ser envernizado, voltava para o mundo real. Abria os olhos, que já estavam abertos, mas tão mórbidos quanto os olhos daqueles que deliram, e respirava o ar pesado da realidade, que era seco e ríspido, mas que seu corpo necessitava inspirar. Seu corpo e seus pés tornavam a pesar-lhe, como se fossem uma carga, e já não sentia-se livre como a bailarina-pena que fora momentos atrás, valsando seus devaneios em cores e texturas.

Parecia-lhe como se fosse um orgasmo. Um tanto mais longo que um real orgasmo, mas exatamente igual. Sentava em sua cadeira em frente aos seus materiais, pegava um pouco de tinta branca e despejava em uma bandeja com uma colher já suja de outras vezes, pingava uma gota de cada pigmento que imaginava precisar para tornar a figura que assombrava seus olhos real, uma em cada espaço da bandeja, ligava a música e segurava o pincel que achasse mais adequado para desencadear a explosão de cores e traços que viria a seguir, hipnotizava-se com os movimentos aleatórios de seus pulsos, um portador das cores produzidas por misturas na bandeja, outro suporte para a ferramenta que transportava a cor ao desenho, fugia da realidade e começava a valsar, até que aquele prazer chegasse a seu ápice na assinatura da figura que havia se concretizado, então o mundo voltava a ser insípido como costumava ser geralmente, e suas energias para começar uma nova obra estavam exauridas. Sentia-se feliz e realizada pela obra que acabara de terminar, e infeliz por tê-la terminado tão rápido, ao mesmo tempo.

sábado, 30 de outubro de 2010

22/02/2007


O amor que me encontre.
O amor que me encontre através de uma troca de olhares.
Através de um simples sorriso.
Através de uma palavra.

O amor que me encontre.
O amor que me encontre através das paredes da minh’alma.
Por detrás da porta da solidão.
E escondida entre a tristeza e a saudade.

O amor que me encontre.
Pois me perdi por um vazio profundo tentando encontrá-lo.

O amor que me encontre.
Porque ainda estou perdida por ele vagando sozinha.
Por seu sorriso, por seu olhar, por sua voz, por seu jeito de ser.

O amor que me encontre.
Pois eu já o encontrei em você.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Pois bem: sigamos pintando!

Tive um lapso de consciência e de repente descobri que posso simplesmente resumir tudo a cores.
Começo em meus tons alternativos como, por exemplo, quando quero ser invisível, então utilizo preto; ou quando quero ser séria, marrom ou bege; e o vermelho que me parece um tanto sobrecarregado de um estilo sexy.
Também descobri que minha imaginação é capaz de colorir músicas, como a clássica de um azul cintilante e furta-cor, o rock de azul-marinho ou vermelho quase vinho, e MPB de um azul claro.
E o amarelo? Ah, o amarelo! É o verão, é o sorriso, a felicidade, o calor que eu gosto tanto de sentir, como se só assim eu pudesse ter certeza de que não estou sozinha neste mundo.
O branco - o nada - é a calma, o pensamento vazio, as horas mais vagas e tranqüilas que tão raramente possuo.
Descobri também que minha vida é bifásica. Parte dela é rosa choque e azul; outra parte é laranja e verde limão. Talvez seja por isso que ela se divida de uma forma tão evidente. Não há como juntar todas essas cores, os tons não exatamente combinam entre si.
E roxo... Bem, o roxo sou eu, ele está onde eu estou, carrego-o sempre comigo.
Chega a ser interessante como essas cores me perseguem. Umas um tanto como reflexo de uma carência contínua, enquanto as outras são os tons da liberdade e da responsabilidade; ainda não aprendi a lidar com todas essas cores. Ora é uma que me vem à mente, ora é outra. Mas minha vida é um mix de todas. Dias coloridos, dias monocromáticos, e não posso esquecer: dias coloridos por cores de outras pessoas.
Temos à mão todas as opções possíveis e assim podemos pintar tantos quadros... É interessante pintar, não é? Misturar riscos e rabiscos quaisquer, informes, irregulares, até que enfim surge uma figura qualquer, delineada: bonita ou feia, mas única.
Engraçada a vida... E, quais são os pincéis? Bem, cheguei à conclusão de que os pincéis somos nós mesmos, com nossos riscos tortos, acertos e erros, e pintamos nosso próprio quadro: nossa história. Às vezes erramos e cometemos um borrão, ou pior: começamos uma pintura que não era exatamente o que buscávamos. Mas quando se trata de tintas eu aprendi uma importante lição: se errarmos, é só esperar secar e recomeçar a pintura. Pode até ser difícil de cobrir as cores de baixo, mas uma hora dá tudo certo, e quando dá certo olhamos satisfeitos e pensamos: “Que magnífica obra! Picasso deve ter aprendido comigo em outra vida.”
Seguimos então pintando, admirando nossas próprias obras e cobrindo nossos borrões, que sempre acontecem e continuarão a acontecer, mas ninguém precisa saber, nem dá pra notar quando tudo estiver pronto; são apenas pequenos aprendizados que temos para nós mesmo durante a pintura desse quadro, nada mais.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Obs.:

Estás aqui novamente,
Unido ao meu pensamento
Tentando trazer de dentro,
Esperançoso, um alento
Antigo e que já morreu.
Mas não deseperes tanto:
O meu coração é teu.

Rogo!

"Assim como um beijo é um mero beijo se sem amor ele se dá,
não peço mais que a profundidade de um simples olhar,
não mais que uma pequena palavra, mas dita de coração;
não carece de ser uma obra: um assovio já é canção."